sábado, 21 de julho de 2012

A POETICA DE VANDA FERREIRA *


Com satisfação, sinto-me honrado em poder comentar a poética de Vanda Ferreira, neste  ROTEIRO DA LIBERDADERoda de Prosa e Poesia, seu décimo livro publicado.
 Tive o primeiro contato com a poética da autora, no início da década de 1990, quando integrei a banca examinadora do IV Concurso de Crônicas e Poesias - Campo Grande Meu Amor, em que Vanda concorreu com a crônica Mãe Natureza, escolhida entre as composições vencedoras.
Na qualidade de professor de língua e literatura, tive o privilégio de ser indicado revisor final das obras vencedoras daquele Concurso, oportunidade em que percebi a forte inclinação de Vanda Ferreira para os elementos da natureza: sua poética cheira a flores, evoca a Primavera.
As reminiscências da infância da autora povoam toda a sua poética, impregnada do verde, do brilho do sol, dos encantos da lua; tudo influenciando os ventos e definindo as chuvas, saliva celeste que, associada aos rios e córregos, irriga a Natureza e constituem o elemento que purifica e revitaliza a paisagem campestre, constante poética de Roteiro da Liberdade.
No entanto, no conjunto de sua obra, Vanda constrói também uma prosa de cunho filosófico moralizante, a exemplo de Faxinação, em que a autora se vale da figura materna que dá conselhos para os filhos tornarem-se inteiramente limpos e encontrarem a paz social: Limpar o pensamento exige a parceria do coração limpo, dos olhos limpos; da boca limpa. (...) Evitar danos à integridade pessoal, comunitária e global é garantido com sistemático processo de limpeza individual.
Assim, Faxinação, constitui ensinamentos para a arte de viver e conviver, remetendo-nos às literaturas de dois grandes escritores brasileiros: Guimarães Rosa, em cuja obra Grande Sertão: Veredas encontra-se a célebre frase: Viver é muito perigoso, e Drummond de Andrade, que em seu poema: O Homem, As Viagens, ensina-nos que o caminho para a satisfação humana só será alcançado por meio da perene, insuspeitada alegria de con-viver. No mesmo diapasão, Vanda Ferreira sintetiza: Limpeza tem a ver com paz.
Mas não pense o leitor que Vanda Ferreira se resume a escrever poemas de exaltação à Natureza ou de engajamento social moralizante. Não. Ela também se destaca no romance amoroso sensualista, como o fez em O Testamento.
Nessa obra, a autora trata dos encontros e desencontros amorosos, cujas personagens, um homem e uma mulher, representados apenas pelos pronomes Ele e Ela, vão marcando, a cada novo Encontro, sua sofreguidão pelo gozo carnal, que, finalmente,  culmina com a plenitude da realização amorosa.
Em O Testamento, percebe-se que Vanda Ferreira pretende construir um romance marcado por um sensualismo velado, valendo-se de palavras e frases perifrásticas. Mas de nada adianta esse recurso, pois, quanto mais tenta dissimular esse sensualismo, mais ainda o poder descritivo da autora deixa transparecer um erotismo poético como se fosse uma erupção vulcânica, como se vê no trecho seguinte extraído de Fantasma (p.69):
Um vulto feminino fez-se sombra e turvou o alto astral que até então reinava, (...). A sedutora silhueta desprendeu veneno. Soprou-o e tingiu o ambiente com a cor do pecado. Ele aspirou o veneno, que se alastrou em sua fragilidade carnal; então, perdeu sua luminosidade.
Quanto ao estilo, Vanda Ferreira imprime velocidade e cadência em sua narrativa, organizando construções enfáticas em torno de três ou quatro palavras ou conjuntos de palavras dispostas em gradação, como se vê em: Resignada, resolveu extrair de si o caco de sol, a banda de estrela, a lasca da lua. (...) Porque tudo é mesmo belo! A experimentação, o degustar, o vivificar...
Agora, com a publicação de Roteiro da Liberdade, Vanda Ferreira enriquece a Literatura sul-mato-grossense e leva ao público leitor uma obra  graciosa, cheia do verde-florestal, característica que povoou a alma da autora quando criança.

Adelino Brandão dos Santos
É professor licenciado em Letras, com Pós-graduação em Língua Portuguesa. Bacharel em Ciências Jurídicas (Direito), com Pós-Graduação em Segurança Pública e Cidadania. É Instrutor de Língua Portuguesa Aplicada à Administração Pública do DPRF/MJ.


Um comentário:

  1. A poética de Vanda Ferreira - Bugra Sarará exala o perfume das flores, o cheiro agreste: quase tudo ecológico.

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